Setembro 10, 2018
A Operação Lava Jato produziu pelo menos três vezes mais prejuízos econômicos para o Brasil do que o valor desviado com a corrupção, de acordo Instituto de Estudos Estratégicos de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis Zé Eduardo Dutra (Ineep), que levantou informações sobre os impactos econômicos da operação
Apenas no primeiro ano, estima-se que a Lava Jato retirou cerca de R$ 142,6 bilhões da economia brasileira e até 2019 deverá ser a responsável por um impacto negativo de mais de três pontos percentuais do Produto Interno Bruto (PIB).
Os efeitos devastadores nos investimentos do país ainda são piores, segundo artigo de William Nozaki professor de ciência política e economia da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo (FESP-SP) e pesquisador do Ineep.
Segundo o estudo, em 2015 a força tarefa provocou a redução do equivalente a 2,0% do PIB em investimentos da Petrobras e o equivalente a 2,8% do PIB em investimentos das construtoras e empreiteiras. No ano seguinte, calcula-se que a Operação tenha sido responsável pelo encolhimento de 5,0% dos investimentos em formação bruta de capital fixo no país, bem como reduziu em mais de R$ 100 bilhões o faturamento das empresas arroladas na Lava Jato.
Já o impacto nos empregos pode-se ser traduzido pelo exemplo da indústria naval, uma das mais afetadas, que chegou a empregar 82.472 mil trabalhadores em 2014 e, neste ano, tem apenas 29.539.
Ainda segundo o artigo, que foi publicado no Portal GGN, passados quatro anos do início da Lava Jato, as estimativas do MP e da Polícia Federal, são de que apenas a Petrobras perdeu cerca de R$ 6,2 bilhões por propinas, outros R$ 42 bilhões foram desviados por outros crimes. Segundo o MP, os valores atualizados em 2018 apontam que a petrolífera brasileira deve ser ressarcida em R$ 12 bilhões, dos quais foram devolvidos até agora apenas R$ 2,5 bilhões, cerca de 20% do total.
“Quando se observa as consequências da Operação o que se nota é que ela tem promovido o desmonte de importantes setores da economia nacional, principalmente da indústria petrolífera e da sua cadeia de fornecedores, como a construção civil, a metal-mecânica, a indústria naval, a engenharia pesada, além do programa nuclear brasileiro”, diz o autor do artigo.
William diz ainda que Operação pode ter retardado o processo de recuperação da Petrobras, principalmente por criar uma espécie de criminalização dos investimentos da estatal que, na atual conjuntura, seriam fundamentais para retomada do desenvolvimento econômico brasileiro.
“Por trás dos argumentos de combate à corrupção escondem-se interesses que atentam contra a soberania nacional e em favor de ganhos exorbitantes para o capital privado internacional e de ganhos curto-prazistas para alguns setores do capital privado nacional. Ganhos que, anteriormente, vinham sendo apropriados por diversos segmentos da sociedade brasileira”, avalia.
“Prova disso é que o investimento da Petrobras saltou de US$ 9 bilhões em 2004 para quase US$ 55 bilhões em 2013; os efeitos multiplicadores significaram a geração de 50 mil empregos na indústria naval e milhares de postos de trabalho na indústria metal-mecânica, além da ampliação de arrecadação para as diversas esferas governamentais, investimento em pesquisa e desenvolvimento entre outros”.
A justificativa oficial para o desinvestimento, a descapitalização e a alienação patrimonial está ancorada na ideia de que a Petrobras precisa se refazer dos prejuízos causados pela corrupção revelada pela Operação Lava Jato. Como já se apontou, em 2014, a empresa estimou os prejuízos com corrupção em cerca de R$ 6,2 bilhões; nesse mesmo ano, o lucro bruto da empresa foi de R$ 80,4 bilhões, ou seja, os problemas com corrupção, ainda que envolvendo montantes significativos, atingiram apenas 7,7% do lucro da empresa.
“O problema da corrupção não deve ser minimizado, mas certamente ele não justifica o encolhimento dos investimentos apontados pela atual gestão da Petrobras. Nesse sentido, a Operação Lava Jato tem deixado impactos econômicos bastante danosos para o conjunto da economia brasileira”, finaliza.