Março 18, 2019
São Paulo – “É um orgulho para o MST. Um território onde estamos construindo aquele sonho de sociedade onde todo mundo é igual, todo mundo trabalha e todo mundo tem renda boa”. Assim o coordenador nacional do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra João Pedro Stédile definiu o sentimento das 363 famílias que trabalham na produção de arroz em 15 assentamentos de 13 cidades gaúchas. Eles comemoraram a colheita de 16 mil toneladas de arroz orgânico, com uma grande festa no município de Nova Santa Rita.
“Aqui em Santa Rita os trabalhadores construíram várias conquistas que são um sonho para a sociedade brasileira. Aqui não só se produz arroz agroecológico há 16 anos, como aqui não tem mais analfabetos, não tem fome, aqui ninguém mais é desempregado. As mulheres construíram uma agroindústria de geleia e produtos naturais”, explicou Stédile, durante a abertura da comemoração.
Stédile destacou a liderança do MST como maior produtor de arroz agroecológico da América Latina. “O arroz daqui alimenta milhares de crianças, porque vai para a merenda escolar. Para perturbar os conservadores, os produtores ganharam um edital e estão fornecendo arroz e café para o Exército Brasileiro. É uma vocação cidadã. Queremos que todo cidadão brasileiro tenha uma alimentação saudável que é o que o agronegócio não consegue fazer, porque eles só produzem com veneno”, afirmou.
O MST completa este ano duas décadas de cultivo do alimento no Rio Grande do Sul. As primeiras experiências ocorreram em 1999, em pequenas áreas no entorno de Porto Alegre. Hoje são produzidos diversos tipos de arroz, entre eles o cateto, arbóreo, integral, agulhinha, parboilizado, vermelho e preto.
Além da colheita simbólica na lavoura, a festa oficial contou com ato político, feira orgânica, estudo sobre a reforma da previdência e lançamento do livro A produção ecológica de arroz e a Reforma Agrária Popular.
Segundo Emerson Giacomelli, coordenador do Grupo Gestor do Arroz Agroecológico, a produção é uma alternativa ao modelo do agronegócio, pois estabelece relações de respeito entre os seres humanos e os recursos naturais. “Usamos técnicas que estimulam a fertilidade do solo e a produção de alimentos saudáveis. Assim, propiciamos mais qualidade de vida aos produtores e consumidores, além de renda aos assentados”, explicou.
As famílias plantam o arroz em sistema pré-germinado. A produção, que é totalmente livre de agrotóxicos, é certificada como orgânica desde 2004. Quando se faz necessário o controle de pragas, são utilizados biofertilizantes, repelentes naturais ou insumos permitidos pela legislação dos orgânicos. A água também ajuda a combater inços – conhecidos como ervas daninhas – e plantas indesejadas. Já o melhoramento do solo é feito com incorporação de matéria orgânica, como estercos de animais e palhas de arroz, uso de calcário, pó-de-rocha e fosfato natural.
O MST possui unidades próprias de agroindústria para recebimento, secagem, armazenagem e embalagem de arroz, além de unidade de beneficiamento de sementes. Todo o processo produtivo, industrial e comercial é coordenado pela Cooperativa dos Trabalhadores Assentados da Região de Porto Alegre (Cootap), que ajuda a organizar a produção das famílias através de associações, grupos informais e quatro cooperativas.
Fonte: Rede Brasil Atual