Agosto 13, 2018
Essa oitava eleição presidencial contabilizada desde a transição da ditadura (1964-1985) sinaliza que o Brasil segue asfixiado por roteiro primitivo de uma agenda rebaixada pelo golpe do governo Temer.
Com a exclusão de Lula, o primeiro nas pesquisas de intensão de voto, o discurso prevalente revelou estruturas profundas do pensamento conservador, motivador histórico do eleitor a votar contra, não a favor do que anseia. Isso ficou escancarado após o primeiro debate televisivo com alguns candidatos presidenciais realizado por TV, na última quinta-feira (9), na Band.
Sem rebeldia nas mentalidades, o sentido maior dos argumentos não revelou saídas, mas ressaltou entraves justificadoras de continuidades. Em mais de três décadas de experimentação democrática, a mais longeva do país, nenhuma reforma profunda nas estruturas do conservadorismo de um capitalismo selvagem foi estabelecida.
As reformas de base emergidas no início da década de 1960 foram rapidamente estancadas pela força do autoritarismo dos governos militares. A retomada democrática trouxe a tona um conjunto de reformas anunciado pelo documento Esperança e Mudança, em 1982, por importante ala progressista do antigo MDB.
A derrota da emenda das eleições diretas, em 1984, terminou, entretanto, por sepultar o ânimo reformista da Nova República. A passagem para a via democrática, também conhecida por transição transada pelo alto, que excluiu os interesses da base da pirâmide social, foi marcada pela sucessão de governos voltados a estancar a desagregação da sociedade instalada por grave sangria da decadência produtiva que decorre da precoce industrialização.
Nos governos do PT (2003-2016), os avanços protagonizados para incorporar pobres no orçamento público sofreram ataques sistemáticos do conservadorismo. O entrave maior, contudo, se deu pela força do golpismo convergente dos interesses contrariados, responsáveis que foram pela derrocada da presidenta Dilma (2011-2016) e a ascensão do desgoverno Temer.
Por isso, o mais do mesmo esteve presente no modelo burocrático e superado de debates realizado recentemente por TV entre alguns candidatos presidenciais. Prevaleceu ausente para o telespectador a possibilidade de identificar visões distintas dos problemas e soluções prioritárias para o enfrentamento da gravíssima situação nacional.
O formato do debate de candidaturas presidenciais tende a perseguir regras que engessam qualquer criatividade, promovendo convenientemente a superficialidade de perguntas e respostas, numa espécie de teatro de bonecos e marionetes. Com questões previamente testadas e respostas programadas, a improvisação somente tornar-se-ia possível mediante a ousadia da rebeldia às mentes já colonizadas.
As proposições, em geral, apontaram para a reprodução da perspectiva conservadora de tratar o futuro nacional com referência nas ideias importadas. Na maioria das vezes, o predomínio do pensamento econômico anglo-saxônico se fez presente na defesa do programa de austeridade fiscal que desmonta a perspectiva de Brasil nação.
Assim, a reflexão e as proposições governamentais apresentadas encontraram-se deslocadas da própria realidade nacional. Por conta disso, a experiência desse início do século, com seus progressos e regressos experimentados ao longo nos anos 2000, por exemplo, termina sendo deslocada do receituário dominante.
Enquanto os retrocessos do governo Temer servem de ilusão ao falso tratamento da crise fiscal, a estimular a série de reformas para exclusão dos pobres do orçamento público, o objetivo do receituário neoliberal de encolhimento da nação segue livre. Mas isso pouco será visto no teatro de debates de bonecos e marionetes.
Por: Marcio Pochmann é professor do Instituto de Economia e pesquisador do Centro de Estudos Sindicais e de Economia do Trabalho, ambos da Universidade Estadual de Campinas.