Junho 19, 2018
O Brasil parou nas últimas duas semanas. A greve dos caminhoneiros mostrou o poder dos trabalhadores quando decidem parar a produção capitalista. O motivo essencial da paralisação: a política de preços catastrófica tocada pelo governo Temer na Petrobras, que fez aumentar o preço do diesel em 38% nos 30 dias que antecederam a greve, explodindo a ira acumulada dos motoristas. Política de preços que continua mantida, mesmo após a saída de Pedro Parente da presidência da estatal, e serve apenas para agradar os chamados “acionistas”, não mais que uma dezena de fundos de investimento concentrados nas mãos de grandes bancos internacionais. Assim segue o Brasil, escravo dos banqueiros e torturando o povo que sofre com as mazelas da crise.
Segundo dados preliminares, a greve dos caminhoneiros provocou prejuízo que chega aos R$ 75 bilhões para a economia nacional. Dentre os prejudicados pela paralisação legítima dos motoristas, estão desde donos de postos de combustível e grandes multinacionais, até pequenos produtores rurais e comerciários que deixaram de conquistar comissões sobre suas vendas. Se os caminhoneiros conseguiram redução do preço do diesel ao final da greve, estes amplos setores prejudicados não tem qualquer reparação por parte do governo, o que certamente irá derrubar ainda mais fortemente a economia brasileira.
No entanto, longe de tentar criminalizar a greve por conta de seus prejuízos, como a grande mídia vem tentando fazer, é preciso escancarar dois fatos fundamentais, que revelam a essência do atual momento brasileiro: 1) o fracasso do projeto econômico do governo de Michel Temer e; 2) a radicalidade da guerra de classes e o poder dos trabalhadores quando decidem levar a luta até as últimas consequências.
Pedro Parente assumiu a Petrobras logo no início do governo Temer. Entrou com o compromisso de reduzir o papel da estatal na economia brasileira e ampliar a privatização do setor de petróleo e gás. Com o discurso de abrir o setor para a “concorrência”, passou a atender, única e exclusivamente, os interesses de não mais que 6 ou 7 grandes multinacionais estrangeiras. Com isso, reduziu a utilização das refinarias nacionais, priorizando a exportação de petróleo bruto e a importação de derivados (gasolina, diesel, gás de cozinha, etc.). Além disso, definiu por repassar qualquer aumento de custos para o preço final, favorecendo os lucros dos grandes acionistas da Petrobras. Resultado: uma política antinacional e privatista, que, no momento de subida do preço do petróleo e de valorização do dólar, fez explodir os preços e deflagrar a grande greve dos caminhoneiros.
A greve obrigou o governo a negociar e derrubou Pedro Parente. Entretanto, ao invés de mexer na estratégia entreguista na Petrobras, a equipe de Temer decidiu por reduzir impostos e colocar recursos do Tesouro para cobrir a conta da redução do preço do diesel. Para a gasolina e o gás de cozinha, nenhuma alteração. Aqui o povo continuará pagando a conta do lucro dos investidores. Já se anuncia cortes na saúde e na educação para fazer frente à renúncia de impostos sobre o óleo diesel. Já para os caminhoneiros, uma redução de preços que certamente não resolverá o sério problema da recessão econômica, da queda do valor dos fretes, do aumento dos custos e do alto endividamento.
O saldo desta conta é o fracasso da estratégia econômica de Temer e o reforço da guerra de classes contra os trabalhadores e em favor dos grandes investidores internacionais. Ao contrário da propaganda oficial de que estaríamos em plena recuperação, colhemos uma grande greve que emerge na esteira da estagnação da economia, do empobrecimento do povo, da perda de direitos dos trabalhadores e da quebradeira dos pequenos proprietários – sejam eles caminhoneiros ou donos de pequenos comércios. Já por parte dos lucros dos monopólios, a situação é maravilhosa, sendo que nunca houve tamanha distribuição de lucros e dividendos como em 2017 e no início de 2018. O governo, por sua vez, revelou toda sua incompetência, não passando de um moribundo que se arrastará até as eleições de outubro.
Por fim, é preciso reconhecer que, a despeito de toda a retórica em torno do fracasso do governo Temer, que vinha sendo promovida por partidos de esquerda e sindicatos, quem efetivamente derrotou a propaganda oficial e revelou as entranhas da república brasileira foi o poder do movimento grevista. Primeiro os caminhoneiros e depois, com menor força, os petroleiros, ao entrarem em greve, revelaram o poder dos operários e a inutilidade dos capitalistas. Enquanto os trabalhadores fazem a economia rodar, os capitalistas apenas sugam os lucros e dividendos. Se os primeiros sofrem o peso da guerra de classes, os segundos aproveitam a boa vida de quem tem muito dinheiro sem precisar trabalhar.
Assim, virar o jogo da guerra de classes brasileira, em favor dos trabalhadores e contra os capitalistas, passa necessariamente pela valorização da greve como instrumento fundamental de luta. Como já diria a célebre frase de um ministro alemão lembrada por Lenin: “por trás de cada greve, aflora a hidra da revolução”.
Por Francisco Alano – presidente da FECESC